Resenha nº 46: Sociedade do Cansaço – Byung-Chul Han
Olá! A resenha de hoje é sobre o livro Sociedade do Cansaço, escrito por Byung-Chul Han. Este é mais um livro filosófico bem curto que me surpreendeu e eu devorei. Na semana passada eu já tinha resenhado o Zen e a Arte da manutenção de motocicletas, os dois me fizeram refletir bastante.
Sociedade do Cansaço é um livro de filosofia e sociologia contemporâneo, que expõe os aspectos psicológicos e sociais da exaustão na vida moderna. A exaustão não é apenas uma condição física, mas também espiritual e mental, causada pelas crescentes demandas de trabalho e tecnologia. Você já conseguiu se identificar também?
Han sugere que a exaustão não é apenas um problema pessoal, mas social que afeta a experiência coletiva e prejudica o senso de propósito e bem-estar das pessoas. Alguns fatores que contribuem são o impacto da globalização, as pressões do consumismo e as consequências psicológicas da era digital.
A fadiga afeta também o envolvimento em relacionamentos e atividades significativas. Os indivíduos estão se sentindo cada vez mais desconectados do mundo ao seu redor. Todo a argumentação é embasada em trabalho de pensadores notáveis, como Heidegger, Nietzsche, Baudrillard, Freud, Deleuze e Guatarri, Foucault, entre outros.
Martin Heidegger respalda argumentação a respeito do papel da tecnologia na nossa experiência da fadiga, caracterizada por um profundo sentimento de tédio. Nietzsche fala sobre a vontade de poder e a eterna recorrência, embasando que a sociedade hoje é caracterizada por uma forma de dominação que opera por meio da performance e do cultivo do desejo.
Han também faz referência às ideias de Baudrillard sobre o impacto do consumismo em nosso senso de identidade e as consequências psicológicas da cultura da simulação. As teorias de Freud sobre a psique e o inconsciente são citadas para explorar os fatores psicológicos que contribuem para a cultura da fadiga e as consequências psicológicas das demandas de trabalho e desempenho na sociedade contemporânea.
Deleuze e Guattari são citados para explorar as implicações culturais e sociais da proliferação da tecnologia e o impacto que ela tem em nossa experiência de exaustão. Foucault é citado para fundamentar sobre o poder e os mecanismos de controle na sociedade moderna, argumentando que a sociedade contemporânea opera por meio do exercício do poder sobre o indivíduo através das demandas de trabalho, consumo e entretenimento.
A sociedade contemporânea é caracterizada pela exploração do trabalho para fins de acumulação de capital, e as demandas de trabalho e desempenho são impulsionadas pelos imperativos do mercado. Essas demandas seriam responsáveis pelo sentimento de alienação e perda de autenticidade, além de aumentar a negatividade, isto é, depressão, ansiedade e outras doenças mentais.
Para mim, isso foi esclarecedor e uma bandeira vermelha para mudar um pouco da minha filosofia de trabalho, que é abaixar a cabeça e trabalhar. Eu ainda faço isso, mas respeitando meus limites.
Também achei interessante explorar o conceito de auto-exploração, que para mim é paradoxal. A ênfase na autodescoberta é uma forma de escapismo que permite aos indivíduos evitar as dificuldades e complexidades do mundo ao seu redor, é uma forma de individualismo que está levando à falta de comunidade e a um sentimento de solidão.
Ou seja, em vez de ajudar, essa busca constante por autoconhecimento é um subterfúgio, já que não traz nenhuma realização real, só aumenta a sensação de esgotamento e desilusão com a vida. O foco no desempenho também está levando a um sentimento generalizado de decepção, pois os indivíduos são incapazes de corresponder às suas próprias expectativas ou às dos outros.
Han também critica a atual obsessão pela positividade na sociedade ocidental. A ênfase no pensamento positivo e a rejeição da negatividade é um reflexo da tendência social mais ampla em direção ao individualismo e à rejeição do sofrimento. Ele argumenta que o impulso para a positividade é uma forma de opressão que leva os indivíduos a suprimir suas emoções negativas e esconder seu verdadeiro eu.
O foco na positividade seria uma forma de evitar as dificuldades da vida e evitar o desconforto das emoções negativas. O autor argumenta que essa rejeição da negatividade está impedindo os indivíduos de desenvolver relacionamentos significativos com os outros e de experimentar toda a gama de emoções humanas.
A tecnologia também desempenha um papel central na sociedade da fadiga, tanto como meio de exploração quanto como fonte de distração e entretenimento. Além disso, a sociedade contemporânea é caracterizada por um culto à razão que é, em última análise, autodestrutivo, e as exigências do trabalho e do desempenho levam a um profundo senso de irracionalidade e absurdo.
Eu gostei e também achei muito esclarecedor a categorização de Han sobre as estruturas da sociedade ao longo do tempo, a fim de compreender a evolução do poder e controle na sociedade ocidental e os desafios enfrentados pelos indivíduos na era contemporânea.
No primeiro período, ao qual ele se refere como a sociedade disciplinar, o poder era exercido por meio de instituições como escolas, prisões e hospitais, e era baseado no princípio da disciplina e do controle. Nesse período, os indivíduos estavam sujeitos a um regime de normas e regras que moldavam seu comportamento.
No segundo período, que ele chama de sociedade de controle, o poder é exercido por meio dos meios de comunicação e da tecnologia da informação. Nesse período, os indivíduos estão sujeitos a um regime de regulação e controle, mas as formas de controle são mais sutis e menos visíveis.
Na era atual os indivíduos estão sobrecarregados com as demandas do mundo e não conseguem escapar do ciclo de trabalho, consumo e entretenimento. Nesse período, o poder é exercido por meio da manipulação do desejo e da produção de necessidades.
A visão tradicional de liberdade como ausência de restrições externas foi desafiada pelo surgimento da sociedade da fadiga, na qual a liberdade tornou-se um fardo, pois espera-se que os indivíduos realizem e inovem constantemente para manter sua vantagem competitiva.
A busca pela liberdade tem levado a uma situação de insatisfação perpétua, pois os indivíduos nunca conseguem atingir o nível de liberdade que desejam. Han sugere que a liberdade se tornou um conceito paradoxal, pois a busca pela liberdade leva à sua negação.
Apesar de ser um livro muito bem recebido pelos leitores e bem embasado, ele ainda é denso e um tanto desafiador, a escrita é bastante acadêmica. Então, mesmo sendo curto, é importante reler várias vezes para garantir a compreensão total do tema. Ademais, apesar de apresentar o problema muito bem, não há proposição de soluções para contornar o problema da exaustão.
De qualquer forma, eu adorei a leitura por me fazer refletir sobre os novos mecanismos de controle da sociedade, da busca inútil por autoconhecimento e positividade (o problema não é comigo! Hehe) e o autoflagelo para manutenção da competitividade. Minha vida ficou mais leve depois deste livro. Talvez esse seja o melhor livro de autoajuda que li nos últimos tempos.
Já conhecia esse livro? Conhece outros livros similares para nos indicar? Deixe nos comentários!
Agradeço a companhia durante a leitura desse texto. Até a próxima e boas leituras!
*Este texto foi parcialmente escrito pela ferramenta ChatGPT.
Ficha Técnica:
Autor: Byung-Chul Han
Editora: Vozes
Ano: 2017
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