Resenha nº 23: Vasto Mar de Sargaços – Jean Rhys
A primeira resenha de 2019 é sobre Vasto Mar de Sargaços, a maior obra de Jean Rhys, uma escritora dominiquesa que emigrou para a Inglaterra aos 16 anos. Ela sofreu com os choques culturais e o seu sotaque inglês caribenho, o que resultou em algumas obras autobiográficas, como Voyage in the Dark.
Vasto Mar de Sargaços é uma obra inspirada no clássico Jane Eyre, escrito pela inglesa Charlotte Brontë. A obra foi realizada ao longo de 20 anos e tornou-se referência no estudo da literatura em língua inglesa. Vou descrever superficialmente os acontecimentos na resenha, nada que atrapalhe a magia da leitura do texto, mas o suficiente para despertar a compaixão que Rhys desejava.
Jane Eyre é uma obra importantíssima para a literatura mundial e eu a li há alguns anos, então não lembro dos detalhes e lembro muito pouco de Bertha, a esposa louca do senhor Rochester. A obra de Jean Rhys é justamente sobre essa personagem secundária que assombra a vida dos protagonistas de Brontë.
Em 1964, Rhys escreve ao seu amigo Francis Wydham expressando seu descontentamento pela forma como Brontë se remete ao Caribe e pela crueldade do sr. Rochester para com sua esposa. Além disso, a loucura de Bertha foi apresentada como um fato, não como o resultado de um processo. A construção rasa dessa personagem impede que os leitores desenvolvam empatia por ela e isso motiva Rhys a reconstruir Bertha de forma mais humana.
Vasto Mar de Sargaços é divido em três partes, as duas primeiras na Jamaica e a última na Inglaterra. Na primeira, Antoinette Cosway (o verdadeiro nome de Bertha) narra a sua infância em Coulibri e as tragédias que acometeram sua família. A história acontece em meados do século XIX, quando a abolição da escravidão ainda era recente e muitas famílias que dependiam do trabalho escravo foram prejudicadas, como a de Antoinette, que mergulhou fundo na pobreza.
Os ingleses nunca entregaram a indenização prometida após a promulgação da lei e pareciam não se importar quando o vizinho dos Cosway abandonou as terras. Os Cosway se resumiam em Anette e seus dois filhos, o frágil Pierre, irmão mais novo de Antoinette. Era um trio bastante vulnerável e hostilizado pelos negros do local, que lhes chamavam de “barata branca”.
Esse foi um período de isolamento quase total que moldou a personalidade de Antoinette. A situação perdurou até que sua mãe, se casou novamente com o sr. Mason, um homem rico que restituiu o bem-estar da família. A hostilidade continuou, apesar de Mason acreditar que era exagero, até a noite em que foram expulsos violentamente de Coulibri.
Anette nunca superou a perda do filho caçula, a dor e o ódio ao marido a consumiram até ceder a uma loucura violenta. Ela foi mantida afastada de Antoinette, que passou a morar na cidade com sua tia e estudar no colégio de freiras. Ela sofreu pelo estigma da loucura sua mãe e a hostilidade habitual que continuou a persegui-la.
Na segunda parte do livro, Edward Rochester assume a maior parte da narrativa. Ele se mostra um homem ganancioso e um pouco tolo, casa-se com Antoinette pelo dinheiro e lhe escondem a loucura de sua mãe. A princípio, Edward parece amar a moça, mas é muito suscetível às fofocas e às crendices populares.
Antoinette entregou-se completamente a Edward e seu coração foi destruído quando ele parou de lhe corresponder e passou até mesmo a odiá-la. Foi nesse momento que ele começou a chamar-lhe Bertha, tentando transformá-la em outra pessoa, em Bertha Mason. Desesperada, Antoinette tenta recuperar a afeição de seu esposo através de Obeah, magia. O resultado é o oposto do desejado.
Na última parte, Antoinette assume a narrativa em sua prisão no sótão de pedra. Essa reclusão forçada piorou a saúde mental da moça, que se tornou mais agressiva e tinha lapsos de memória. A loucura intercalada com a lucidez. Edward nunca foi vê-la.
Antoinette/Bertha vivia em condições deploráveis, é impossível não sentir pena dela e não condenar a crueldade do sr. Rochester. Às vezes, Antoinette roubava as chaves de Grace Poole e se esgueirava pela casa. Havia um boato de um fantasma na mansão, é bastante engraçado Antoinette temê-lo. Suas fugas eventuais fizeram-lhe ter um sonho. Seu último sonho.
Vasto Mar de Sargaços é uma obra curta e de escrita bastante fluida, então é uma leitura muito acessível. Contudo, eu esperava que Rhys se aprofundasse mais na personagem, a história apresenta fatos, mas na minha opinião os sentimentos de Antoinette são descritos de modo superficial. Eu não imaginava que ela amasse tanto o sr. Rochester e fosse tão carente de afeto quanto ela se mostrou no final.
Eu gosto da ideia de criticar o julgamento injusto que Bertha recebeu de Brontë e seus leitores, mas não acho que Jean Rhys tenha escrito uma obra genial, embora muitas pessoas tenham se sentido cativadas. E você, o que achou da releitura de Antoinette Rochester? Comente as suas impressões sobre o livro para discutirmos um pouco 😉
Ficha Técnica:
Autor: Jean Rhys
Editora: Rocco
Edição: 1
Ano: 2012
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[…] Dominica: Vasto Mar de Sargaços – Jean Rhys […]
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[…] livro muito interessante sobre reconstrução de uma história é Vasto Mar de Sargaços, obra-prima de Jean Rhys, deixo aqui a minha […]
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[…] após cada resumo. Inclusive, falando em Jane Eyre, recomendo ler a releitura de Jean Rhys em Vasto Mar de Sargaços. Até a semana que […]
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[…] dessa resenha? Leia também essa resenha sobre Vasto Mar de Sargaços, em que a autora Jean Rhys faz uma releitura da personagem “louca” de Jane Eyre, obra […]
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