Capa de Omeros de Derek Walcott

Santa Lúcia: Omeros

Resenha nº 22: Omeros – Derek Walcott

A última resenha de 2018 é sobre Omeros, obra do ganhador do Nobel de literatura de 1992, o santa-lucense Derek Walcott. Este livro, publicado originalmente em inglês, contém um longo poema inspirado na tragédia grega da Ilíada, mas que discorre sobre a realidade dos caribenhos de Santa Lúcia e as cicatrizes deixadas pelo colonialismo, refletindo sobre a identidade de seu povo.

Apesar da inspiração grega, Walcott reluta em classificar seu poema como épico, alegando que este é um poema sobre uma pequena ilha nas Caraíbas. Devido a seu apego pelas questões históricas e investigação de suas raízes, refletida em sua obra, o Nobel lhe foi concedido “pela sua obra poética de uma enorme luminosidade, sustentada por uma visão histórica e resultado de um compromisso multicultural”.

Walcott passou a ser reconhecido como um grande poeta, autor de versos de “pura musicalidade”, com uma forte carga visual e um “sentido profundo do lugar”. Em sua obra Adios, Carenage, o autor deixa isso claro no trecho traduzido livremente:

I’m just a red nigger who love the sea, I had a sound colonial education, I have Dutch, nigger, and English in me, and either I’m nobody, or I’m a nation.

Eu sou apenas um preto que ama o mar, eu tive uma boa educação colonial, eu sou holandês, negro e inglês, e não sou ninguém, ou sou uma nação.

Talvez por isso seja frequente que críticos e professores de literatura lhe elogiem a escrita com um fundo híbrido, em que o cânone ocidental convive com as influências insulares, em que o inglês, presente na sua educação desde muito cedo, se mistura com a tradição oral das Caraíbas.

Omeros é a maior obra de Derek Walcott, na qual a Guerra de Troia é recriada numa luta entre pescadores do Caribe e um taxista incluso. Personagens de Homero – Heitor, Helena, Filoctetes, Aquiles, além do próprio Homero, encarnado num pescador cego, de nome Sete Mares – apareciam ao lado de divindades do vodu, fantasmas de Troia conviviam com turistas de câmera em punho.

Das raízes mediterrâneas aos grandes autores da língua inglesa, passando pelo patois crioulo das Antilhas e os sons africanos presentes até hoje nas margens do Caribe, este é um canto universal representa o encontro de raças, línguas e culturas que se deu nas praias americanas.

Com um desenho circular, que enfeixa tanto o mundo atemporal dos heróis gregos como o dia a dia de uma aldeia de pescadores do Caribe, Omeros é, antes de tudo, uma história viva do oceano, dos povos e idiomas que por ele ressoam.

Se gostou desta resenha, curta a nossa página no Facebook para continuar acompanhando as publicações. Eu desejo a todos boas festas e um ano novo espetacular para receber 2019 com muita alegria e determinação para enfrentar novos desafios. Nos vemos no ano que vem!


Ficha Técnica:

Autor: Derek Walcott

Editora: Companhia das Letras

Edição: 1

Ano: 1994

Adicione o livro no Skoob!

4 comentários

Deixe um comentário