Capa de A Travessia do Rio, escrito por Caryl Phillips

São Cristóvão e Neves: A Travessia do Rio

Resenha nº 21: A Travessia do Rio – Caryl Phillips

A resenha de hoje é sobre A Travessia do Rio, do autor são-cristovense Caryl Phillips. Apesar de ter nascido no Caribe, Phillips foi criado no Reino Unido e hoje vive nos Estados Unidos, o que me entristece um pouco por não ter a oportunidade de ler uma história ambientada na ilha.

Em vez disso, a história trata sobre todas as etapas do período da escravidão nos Estados Unidos por 250 anos, representada de modo simbólico por três personagens: Nash Williams, Martha e Travis. Os personagens são irmãos vendidos por seu pai depois de uma colheita ruim. A figura do pai representa o continente africano, que lamenta a perda de seus filhos.

Figurativamente separados no tempo, os irmãos enfrentam jornadas desafiadoras, em épocas e continentes diferentes. Além deles, também conhecemos a história de um capitão traficante de escravos através de seu diário de bordo. Em sua viagem, após as restrições britânicas sobre o tráfico de escravos, o capitão tem dificuldade em comprá-los e lidar com as mortes e tentativas de insurreição. Este capítulo retrata a desumanização destas pessoas, tratadas como carga.

Nash é filho de escravos, mas conquistou o afeto de seu senhor e teve oportunidade de estudar e aprender sobre a religião. Mais tarde, foi enviado à Libéria para o projeto de trasladar os ex-escravos estadunidenses de volta para a sua terra, fundando um novo país. Os habitantes nativos deste pedaço de terra deveriam ser evangelizados e aprender os modos civilizados.

Seguindo cegamente as instruções de seu senhor, Nash fez o seu melhor para se manter nesta terra hostil, resistiu a inúmeras doenças e a falta de instrumentos de trabalho. Persistiu, mesmo depois da morte de sua esposa. Nash viveu por alguns anos neste novo país, desamparado por seu senhor, de quem a esposa sabotava a correspondência, dado que reprovava os laços afetivos de ambos.

Dessa forma, Nash abdicou de boa parte do que conhecia do mundo civilizado para conseguir se adaptar à sua nova realidade. Renunciou a seu Deus. À beira da morte, escreve uma última carta ao seu senhor, que busca sua redenção viajando até a África para encontrar seu filho.

Martha foi separada de sua família, a maior dor de sua vida. Ela sonhava em reencontrar sua filha saudável e com uma vida confortável. Ela fugiu antes de ser vendida por seu segundo dono, indo para o oeste dos Estados Unidos ajudar na colonização do lugar. Em sua última viagem, parte para o que se tornaria a Califórnia, mas não resiste à viagem e sucumbe com saudade de sua menina, Eliza Mae.

Por fim, o relato de uma inglesa durante a segunda guerra mundial. Os fatos históricos se misturam com seus dramas pessoais, resultando em uma narrativa bastante interessante do olhar inglês sobre a guerra, durante a defesa de seu país dos ataques aéreos alemães. Próximo ao fim da guerra, o exército dos Estados Unidos atuou na Inglaterra, no vilarejo de nossa personagem.

Neste período, ela trabalhava na loja de seu marido, que estava preso e não lhe tinha nenhum afeto. Certa vez, Travis visita a loja e leva flores para sua dona, que fica balançada. Ele sabe de sua condição como negro, mas ela não se importa e ama-o fielmente. Ela se divorcia de seu marido e casa-se com Travis, que não sobrevive a uma batalha na Itália. Assim, ela acaba sozinha e grávida.

A grande injustiça a que os africanos (e seus descendentes americanos) foram submetidos é indignadora, e obriga a reflexão de como é tão fácil algo assim acontecer e sobre a metamorfose pela qual nossa sociedade está passando. Este é um livro que eu gostei muito de ler, embora desejasse ler algo relacionado ao Caribe.

Eu resumi os fatos principais, mas dentro de cada capítulo o autor destrincha os fatos históricos no decorrer de cada drama. A Travessia do Rio é um livro que te corta o coração, mas é uma obra literária histórica muito interessante devido à pluralidade de pontos de vista. Além disso, o tom da narrativa também está longe de ser sisudo, é um drama bastante atraente.

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Ficha Técnica:

Autor: Caryl Phillips

Editora: Record

Edição: 1

Ano: 2011

Formato: Ebook

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