Capa da 1ª edição de Prisión Verde, obra de Ramón Amaya Amador

Honduras: Prisión Verde

Resenha nº 20: Prisión Verde – Ramón Amaya Amador

A resenha de hoje é sobre a obra hondurenha Prisión Verde (Prisão Verde, em tradução livre para o português), de Ramón Amaya Amador. Este foi um livro revolucionário em seu tempo, e durante o período ditatorial foi prova de subversão para a prisão de cidadãos.

Essa história é bastante popular nas Honduras, não por seus méritos literários e artísticos, mas por ser um grito das classes trabalhadoras oprimidas por um governo tirano e pelas multinacionais americanas. Este tema já foi abordado em Cem Anos de Solidão e Huasipungo, além da obra política As Veias Abertas da América Latina.

“Prisão verde” é como o aplicador de veneno Máximo Luján chama os bananais, dado que os trabalhadores se sentem presos ao lugar apesar de vivem em condições deploráveis — além disso, os pés de banana são verdes. Nesta obra, além de relatar o cotidiano dos trabalhadores rurais, Amador almejava conscientizá-los de sua situação e incentivá-los a lutar.

A obra foi baseada na experiência do autor como aplicador de veneno nas plantações de banana, tal como os personagens principais. Amador indignou-se com as condições precárias de trabalho e procurou denunciar os abusos cometidos pelas empresas de exploração bananeira da região. Tal atitude gerou atrito com o governo do ditador Tiburcio Carías Andino, o que culminou em seu exílio.

A história se inicia no escritório da companhia bananeira, onde se discute a compra de fazendas para aumentar a extensão dos campos de produção da fruta. Luncho López se negava a vender suas terras, argumentava que suas raízes estavam enterradas muito fundo. Por outro lado, seus vizinhos Lupe Sierra e Pancho Cantillano abrem mão de suas propriedades com a crença de terem feito um bom negócio.

Em seguida, o ex-fazendeiro Martín Samayoa aparece na porta da companhia procurando emprego, mas é escorraçado pelo estrangeiro que antes negociava as terras de López. Frustrado, Samayoa é encontrado por Máximo Luján, que se dispõe a ajudá-lo, levando-o para a fazenda na qual trabalhava e recomendando-o para uma vaga.

Logo percebe-se que Luján possui alguma influência sobre os trabalhadores da fazenda. Apesar de nunca ter recebido educação formal, sabe ler e tem um olhar crítico a respeito de sua realidade. Samayoa é levado ao barraco lotado de Lúcio Pardo, um velho irascível que também trabalhava no bananal. Lá vivia a família de Lúcio, Amadeo Ruiz e sua mulher, Tivicho, Luján e outros empregados.

Luján defende que os trabalhadores devem se organizar, formar sindicatos e exigir condições justas de trabalho. Por outro lado, Lúcio, que tem personalidade forte e explosiva, acredita que a situação só pode ser mudada através da força bruta. Outros trabalhadores com desejo de mudança são o ex-professor Damián Cherara, Marcos Palomo e o contratista Camilo Guevara, único funcionário de cargo mais alto que agia em prol dos peões.

Todos os capítulos apontam injustiças causadas pela companhia bananeira, pelo capataz Encarnación Benítez ou pelos estrangeiros responsáveis pela plantação. Benítez é um hondurenho de fala afetada, que tenta imitar os estrangeiros e não perde uma oportunidade de extorquir os empregados. Os estrangeiros agem com desprezo e indiferença em relação aos trabalhadores, valorizando mais as máquinas do que suas vidas.

Tal postura revolta os trabalhadores, principalmente no barraco dos Pardo. Cherara e Luján vão à cidade e trazem jornais dos operários de lá, de modo que os habitantes da vila passam a desenvolver sua consciência social e desejar mudanças. No inverno, os empregados declaram greve após o aumento no preço dos alimentos e falta de amparo contra o frio.

Apesar da coragem, o movimento foi reprimido com força militar. Os companheiros foram traídos por Marcos Palomo e Luján foi acusado de incitar a revolta, por isso, foi fuzilado na calada da noite. Os grevistas procuram pelo corpo, mas não o encontram, e os trabalhadores apontados por Palomo como insufladores da revolta são expulsos da fazenda. Contudo, os moradores do barraco dos Pardo se recusam a sair.

Lúcio Pardo não se conforma com a morte de Luján, torna-se taciturno e pensativo. Samayoa preocupa-se com essa atitude, mas é incapaz de descobrir o que se passa. Pouco tempo depois, um suposto acidente de carro provoca a morte de um dos chefes gringos, do coronel que assassinou Luján e dos capatazes Palomo e Benítez. Rapidamente percebe-se que a tragédia não ocorreu por acaso.

Sob tortura e peso na consciência, Lúcio se entrega e sua morte é decretada. Isso acontece em paralelo ao pedido de casamento de Samayoa à filha do velho. Após a execução, Martín tornou-se o chefe da família e decidiu mudar-se para outra plantação onde não fossem conhecidos.

O destino da família não parece ser diferente do anterior, embora uma fagulha de esperança estivesse acesa ao fim do livro. Eu omiti boa parte da história, focando apenas em alguns pontos importantes. Prisión Verde ainda aponta a desilusão dos ex-fazendeiros que se desfizeram de suas terras. É incrível como essa prática se repetiu sistematicamente em nosso continente, dado a quantidade de livros sobre o assunto.

Duvido que esta vá ser a última publicação sobre o tema, já que essa situação de fato desperta a indignação de qualquer ser humano, mas vou tentar procurar temas mais variados para as próximas leituras. Aliás, curta a página do blog no Facebook para não perder novas publicações. Até semana que vem!


Ficha Técnica:

Autor: Ramón Amaya Amador

Editora: Editorial Universitaria

Edição: 5

Ano: 1988

Formato: Ebook

Idioma: Espanhol

Infelizmente, este livro não foi lançado no Brasil.

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