Resenha nº 7: Dona Bárbara – Rómulo Gallegos
Cá estamos novamente, com a resenha da obra venezuelana Dona Bárbara, escrita por Rómulo Gallegos. Percebi que algumas pessoas têm interesse no livro, mas têm dificuldade para encontrar, então vou deixar aqui o link para a Amazon, o livro vale mesmo à pena.
Eu estava ansiosa para ler o livro devido à biografia do autor, que foi presidente da Venezuela em 1948. Porém, ele governou o país por 9 meses apenas, pois foi derrubado por um golpe militar no mesmo ano.
O livro é um romance maravilhoso ambientado no interior da Venezuela, na planície do Arauca, lugar de criação extensiva de gado. Naquela região, imperava o ditado de que o mais forte sobrevive. Os conflitos são resolvidos na base da violência e a lei era bastante flexível. Um certo Evaristo Luzardo, caminhante errante por aquelas bandas, fundou por lá sua fazenda: Altamira. Suas terras se estendiam por muitos quilômetros, era extremamente rica.
Devido à uma briga de família após a morte de um dos Luzardo, parte de Altamira tornou-se Barcarenha, dando início a um conflito que teria continuidade através dos anos. Daí conhecemos o personagem principal: doutor Santos Luzardo. Santos se mudou com sua mãe para Caracas quando era adolescente, para fugir das lembranças ruins da fazenda.
Na cidade, Santos estudou e se formou advogado, tornando-se um homem “civilizado” e muito correto na aplicação das leis. Nesse meio tempo, a fazenda esteve abandonada nas mãos de administradores de reputação duvidosa, descuido que permitiu a ascensão da personagem que dá título ao livro: dona Bárbara.
Bárbara é uma mulher de origem indígena abençoada com a beleza, despertando a inveja das mulheres e a luxúria dos homens. Ela cresceu no meio da violência da região, o que a fez suprimir certos sentimentos e agir com poucos escrúpulos, transformando-se em uma criatura perigosa.
“No mais profundo de suas tenebrosas recordações, nos primórdios da consciência, via-se uma embarcação sulcando os grandes rios da selva do Orenoco. Eram seis homens a bordo e ao capitão ela chamava o ‘taita’, o paizinho, mas todos eles – à exceção de Eustáquio – brutalizavam-na com idênticas carícias: rudes apalpadelas, beijos que sabiam a aguardente e a chimó, a mistura de fumo com sal que a gente do povo masca.”
Com sua beleza, a mulher seduziu o dono de Barcarenha, Lorenzo. Por acaso, ela conheceu Apolinário, um homem que propôs um golpe para passar à Bárbara a propriedade do fazendeiro. É claro que no plano original a mulher não teria posse de nada, mas as coisas não correram exatamente assim.
Após dispensar Lorenzo, dona Bárbara tomou Apolinário como seu amante e deu cabo dele assim que este começou a lhe trazer ameaça. Depois dele vieram vários outros amantes, homens que eram usados em seus propósitos de conquistar o vale, em especial Altamira.
Bárbara era uma mulher capaz de laçar e capturar um touro como qualquer homem da região, seu poder era tão grande que ela escrevia leis, roubava gado e avançava os limites da Barcarenha a seu bel-prazer. Ela era muito temida e propagava a violência a que foi a submetida durante toda a sua vida. Apesar da falha de caráter, ela é um exemplo de mulher forte na literatura, sendo descrita como uma força da natureza.
Quando Santos Luzardo decide vender a fazenda para se mudar para o exterior, é obrigado a voltar para se informar do estado da propriedade abandonada há anos. Aqui começa a história de verdade, o conflito entre o certo e o errado, a descoberta do ser primitivo que habita o interior do homem e outros conflitos com personagens secundários.
A chegada de Luzardo abala Bárbara, certos sentimentos começam a surgir e ela reflete sobre si, sobre a sua vida, sobre tudo o que já fez e como será dali em diante. O enredo é muito bem construído, Bárbara cresce muito como personagem e conseguimos sentir empatia por ela.
Este é um livro interessantíssimo e até agora o meu preferido da América do Sul, fiquei muito feliz em compartilhá-lo aqui.
Gostou dessa resenha? Leia também A Casa dos Espíritos, que aborda um pouco sobre a ditadura no Chile!
Ficha Técnica:
Autor: Rómulo Gallegos
Editora: Record
Edição: 1
Ano: 1974
Encontre o livro aqui!
[…] da vida no campo e suas relações sociais. A temática é bastante similar à de Huasipungo e Dona Bárbara, embora a narrativa seja muito mais rasa em comparação. Mas e você, o que achou do livro? […]
CurtirCurtir
[…] eu comprei um livro boliviano (Norte – Edmundo Paz Soldán), venezuelano (Dona Bárbara – Rómulo Gallegos), santa-lucense (Omeros – Derek Walcott), iraniano (Quando o Irã Censura uma História de […]
CurtirCurtir