capa huasipungo joge icaza editorial losada

Huasipungo – Jorge Icaza

Resenha nº 5: Equador

A resenha de hoje é sobre o livro Huasipungo, obra do equatoriano Jorge Icaza. Acabei atrasando o cronograma de leitura, mas finalmente terminei! E que cheiro maravilhoso o desse livro! Não sei o que o pessoal do sebo fez, mas às vezes eu ficava com ele aberto só para sentir o perfume do livro (risos).

Bem, Huasipungo é um daqueles clássicos maçantes mas que têm um papel muito importante na literatura nacional. Neste caso, a história é uma novela indigenista ambientado no Equador na primeira metade do século XX e ressalta a exploração e depreciação do trabalho indígena na fazenda de dom Alfonso Pereira e faz críticas fortes à sociedade da época e à igreja. A história começa quando a filha de dom Alfonso engravida de um índio e a família decide se afastar da capital, Quito, durante a gravidez. Ao mesmo tempo, o tio de dom Alfonso ameaça a vida do sobrinho por não honrar suas dívidas e o coloca contra a parede para aceitar uma sociedade como forma de reparação, na qual se dá a exploração de petróleo na fazenda de dom Alfonso, e sob a promessa de muitos lucros. É claro, todo o trabalho seria feito através do sacrifício dos índios.

A história gira em torno da preparação da fazenda para a chegada dos estrangeiros que virão em uma missão civilizadora de colonização. A submissão dos equatorianos fica escrachada em trechos como o seguinte (citações traduzidas livremente):

cita - huasipungo

“- Há de se defender as glórias nacionais… [E também] Don Alfonso Pereira que fez apenas uma estrada.

– Há de se defender as desinteressadas e civilizadoras empreitadas estrangeiras.”

Ou ainda nesta fala de Don Alfonso:

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“- Por isso mesmo quero me desligar de tudo. Os gringos já vêm. Espero que nas mãos desses homens dominadores, desses homens que souberam arrastar com maestria o carro da civilização, estes roscas* bandidos, mal amansados, se recomponham. Não quero mais ser a vítima.”

*Rosca: tratamento desrespeitoso para com os índios.

Pois bem, a fazenda é organizada de modo feudal: os índios que trabalham lá vivem em uma área na beira do rio chamada Huasipungo, onde construíram seus barracos miseráveis e podem plantar pequenas áreas para seu sustento. Seu trabalho, contudo, é “pago”. Dos centavos que os índios recebem, eles não sentem nem o cheiro. O dinheiro é repassado diretamente para a igreja e também é usado para quitar dívidas dos huasipungueiros anteriores da família ou eventuais dívidas contraídas com o patrão. A rotina de trabalho envolve violência e xingamentos constantes, além de outros abusos de autoridade, como os estupros que acontecem pelos superiores, e desses nem o padre escapa. A vida e o trabalho de um índio vale o mesmo que nada, não são considerados mais que objetos ou apenas razão para incômodo.

Além dos índios, existe uma classe intermediária de mestiços, filhos de brancos com índios, chamados cholos. Eles são os supervisores do trabalho indígena e vivem em uma vila próxima a fazenda.

No período em que dom Alfonso esteve com sua mulher e filha na fazenda, foram feitos melhoramentos, retirada de madeira e a procura de uma ama de leite para o bebê. Neste momento conhecemos mais da intimidade do índio Andrés Chiliquinga, casado com sua amada Cunshi. Assim temos a história vista tanto pelo lado forte quanto pelo lado mais fraco.

A grande tarefa de dom Alfonso era a construção de uma estrada que chegasse até a sua fazenda. Nessa odisseia são contadas as artimanhas que o ilustre senhor usa para retirar os poucos que os índios têm para usar em seu benefício e a negativa em ajudar em momentos de dificuldade, a indiferença para com a morte dos trabalhadores indígenas em áreas de risco nos pântanos, por doenças e exaustão. Nessa empreitada, ele une forças com o padre, que não deixa de retirar suas vantagens (totalmente mundanas) do negócio, e com os cholos.

Ao fim da obra, de fato grandiosa, diversos jornais noticiam sua construção e daí surge a passagem mais marcante do livro para mim:

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“A imprensa de todo o país adornou as suas páginas com elogios e fotografias que exaltavam a heroica façanha do latifundiário, do senhor engenheiro, do padre, do tenente político, do caolho Rodríguez, dos irmãos Ruata e dos cholos que trabalhavam coletivamente de graça. E os índios? O que foi feito dos índios? Desapareceram misteriosamente. Nem mesmo um em lugar nenhum, em nenhuma referência. Bom. Talvez sua aparência e sua condição não se encaixavam no público correspondente. Ou não se acharam presentes no momento da fotografia.”

Esta última frase é especialmente impactante, pois eu a considero uma clara referência às várias mortes que ocorreram na obra.

Os Huasipungos se encontram em um local estratégico para dom Alfonso e os estrangeiros, de modo que este trama para obrigá-los a sair de lá e provoca uma onda de fome que assola a população já pobre. Daqui em diante o drama só aumenta e culmina na extinção dos índios da fazenda.

Embora não haja muito o que ser feito, é lamentável que tais maneiras de tratamento a outros seres humanos tenham se perpetuado por um tempo tão longo. Talvez ainda se perpetuem.


Ficha Técnica:

Autor: Jorge Icaza

Editora: Editorial Losada

Edição: 10

Ano: 1975

Idioma: Espanhol

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9 comentários

    • Olá! O próximo livro é do autor uruguaio Eduardo Galeano, As Veias Abertas da América Latina. O review ainda vai demorar um pouco >< a leitura está num ritmo bem lento, acho que só li 60% do livro em 2 semanas e meia. Até o dia 15 eu posto a resenha, porque eu tento sempre fazer os posts na segunda-feira e nessa com certeza não vou ter terminado ainda… As coisas na faculdade estão bem corridas.

      Obrigada por acompanhar e comentar 😉

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